"Sabe minha filha, hoje acordei e pensei 'vai ser um dia normal, irei te levar para creche, o papai vai para a faculdade e só vamos nos ver a tarde, na hora em que eu irei te pegar na escolinha'. Pois bem, era para ser assim mas não foi, pois na noite passada você tossiu muito, e hoje quando acordei pensando que ia ser tudo igual, na hora me veio um pensamento de deixar você em casa e passarmos a quinta feira juntos. Como diz a música que você adora:
"brincar, dançar,saltar, correr, Meu Deus do Céu onde é que eu vim parar."
A mamãe foi para aula e nós ficamos assistindo o dvd do palavra cantada. Dançamos e cantamos e fizemos igual ao teletubies "de novo-de novo" e então repetimos o dvd, dançamos e cantamos tudo novamente. Depois brincamos com as bonecas, e quando vimos já era meio dia e você quis dormir.
Sei que você chorou, e deitou e quis dormir, depois quis colo, e assim tão de repente você quis brincar e comer batata. Aí a mamãe chegou. Acho que ela ficou brava, e ainda falou que se você tivesse ido para a creche nada disso teria acontecido. Talvez eu seja um péssimo pai e deveria ter deixado você ir para escolinha como a gente faz todos os dias.
Mas fico pensando, e se tivesse acontecido lá, será que as professoras teriam agindo rápido? Será que elas não entrariam em pânico, será, igual a vez que você fez um quadro apinéia, e também quase matou tua mãe e tias do coração? Será que elas saberiam fazer as manobras para te salvar, aquelas que o papai aprendeu quando fez o curso de auxiliar de odontologia muitos antes de você existir?
Bom não tenho essas resposta mas, independentemente do que poderia ter acontecido, tudo ocorreu como deveria ter ocorrido, ali comigo do teu lado. Hoje lembro daqueles dias que morei em Porto Alegre, onde enfrentei chuva, frio, falta dinheiro, sem ter um lugar certo para morar, e dias de fome que passei, com uma única certeza de completar meu curso. Se eu soubesse que tudo aquilo era preciso enfrentar para poder salvar você, eu enfrentaria em dobro.
AMO VOCÊ MINHA FILHA."
Nota da mamãe: Sim, eu quase morri de susto. E não, eu não fiquei brava, mas muito assustada com o que tinha acontecido. Deixei a narrativa sem edição, bem como o papai escreveu, mesmo que cada vez que eu leia caia uma lágrima. Amo muito esses meus 'pequenos', e acho que não saberia viver sem nenhum deles. Graças a Deus não passou de um susto e eu não estava em casa, pois engasgaria junto!