26 julho 2010

Divagando

Pensando na vida, percebi que a Gabi escolheu à hora de vir ao mundo, e não foi só na hora do parto não. Ela não se importou se eu ainda não tinha terminado a faculdade, se eu estava de enrolada até o pescoço em problemas familiares, ou se seu pai e eu não éramos casados. Ela foi o espermatozóide mais esperto, ultrapassou todos os outros, entrou no quentinho do meu útero quando quis e de lá só saiu quando chegou sua hora.
Eu não lidei muito bem com a notícia da gravidez em um primeiro momento. E como poderia, se cada pessoa que ficava sabendo parecia que havia descoberto que eu tinha o meu fracasso bem ali, crescendo em meu ventre? Conto nos dedos de uma mão os parabéns sinceros que recebi, de pessoas amigas de verdade e que encararam a vinda da Gabi como a benção que é. A grande maioria das pessoas que me cercam via minha gravidez como um erro. Aliás, eu cheguei a ouvir isso diretamente: “Poxa, você é tão inteligente, como pôde vacilar desse jeito?” “Esse erro vai atrapalhar teu futuro” e coisas muito piores, impublicáveis aqui.
E olha que eu nem engravidei muito nova, não. São casos e mais casos de adolescentes grávidas, meninas de 13, 14 anos tendo filhos, enquanto eu, do alto dos meus 20 anos à época da gravidez seria considerada velha pra ter o primeiro filho no séc. XIX.
Hoje, filhos parecem ser um mimo reservado para quem tem dinheiro para criá-los... É preciso que se tenha plano de saúde, enxoval milionário, berços futuristas, baba eletrônica, e todo um aparato estritamente desnecessário, já que para criar um filho o que mais se precisa é amor!
Para os que pensam na parte financeira, sim, eu estava ferrada quando engravidei. No meio da faculdade, sem casa própria ou qualquer condições de gastar cinco mil reais em um carrinho de passeio. Mas o bom é que nem mamãe nem papai ligavam à mínima pra isso, pois se não pudermos comprar, emprestamos um carrinho de alguém! Aí me diziam que gastaria um salário mínimo entre fraldas e leite. Mas pra que leite artificial, se mamãe esta aqui, disponível e transbordante de leite natural? E fraldas? Não gastamos 10% do estimado por mês.
Agora, se você acha que primeiro tem que ter muito dinheiro para dar ‘segurança’ ao seu filho, só lamento, mas quando você estiver bem empregada e achar que é a hora, decidirá viajar. Depois, trocar de carro. E de apartamento. E talvez um curso de especialização. E aí, minha amiga, uma hora será tarde demais... Pois o corpo, ao contrário do que pensamos muitas vezes, segue seu curso natural. Podemos esconder rugas com botox e cabelos brancos com tinta, mas o relógio biológico continua seu tic-tac...
Assim, enquanto a maioria das pessoas ao meu redor vê minha filha como um freio, eu a vejo como um motorzinho que me impulsiona a querer sempre mais, a melhorar para que ela tenha uma mãe cada dia melhor. Se ela for uma pedra no meu caminho, é um baita de um diamante. E é pra sempre, como eu sempre quis.